Travessia

Foto: Helena Chiarello - arquivo pessoal


Hesito diante do que me assusta.
A obrigação de ir adiante

                                                               (o chegar é sempre longe)

O sol é alto, o dia é áspero.
O tempo arde na distância interminável.
O pensamento reverbera como a areia quente.
Olho em volta.
O que foi, magoado por ter sido.
Percurso acumulado, lapsos,
sulcos profundos, rastros em círculos.
O que vai ser, magoado antes que seja.
Travessia árida a percorrer às cegas.
O esforço de ir adiante

                                                               (o chegar é sempre lento)

Nenhum vento.
Nenhuma sombra.
Escassa a água.
O medo que se repete.
O espanto de ir adiante

                                                               (o chegar é sempre incerto)

Arrasto os passos, as solidões, as mãos desfeitas.
Cansaço e sede.
E o deserto é ainda inteiro..


                                                               (Amanhã, devagar, me diz como voltar...)


Helena Chiarello


5 comentários:

Anderson Fabiano disse...

leninha,
sempre haverá esquinas à frente e nelas, o inesperado, o susto ou o sorriso. cabe-nos, tão somente, caminhar. pois, nem tudo é apenas susto. há sorrisos nos próximos passos, mas, precisamos dá-los.
linda sua travessia. seu estágio poético é tanto que mesmo na dor vc consegue encontrar a beleza.
meu carinho (sempre)
anderson fabiano

aapayés disse...

Lindo descubrir tus versos..
que lujo leerte siempre..


Un abrazo
Saludos fraternos..

chica disse...

Muito lindo e profundo,Helena! O certo é que vamos indo, com certezxas,incertezas,dúvidas.Ir andando...beijos,tudo de bom,chica

Maurélio disse...

Helena, seus versos são pérolas raras a ornamentar a poesia.
Sucesso sempre querida amiga.
Beijos e um ótimo e feliz 2010

Ellen Veloso disse...

Ando sentindo esse peso nas letras, no corpo, nos sonhos... Uma vontade de sair correndo e de não mais voltar... mas fugir de mim não dá!